Nos últimos anos a polarização política no Brasil tem ganhado eco na internet. As redes sociais tem se tornado palco de debates entre direita e esquerda. No entanto, grande parte dos discursos veiculados nas redes apresentam apenas opiniões individuais sem o respaldo de um conhecimento mais profundo do cenário político. Visto isso, ambos os lados passaram a utilizar da própria internet para formar o público através de blogs, sites, canais de vídeo e agências de notícias.
Pelo lado liberal conservador foi criado em 2016 o site Brasil Paralelo, que, junto com outros grupos, tem sido referência no ativismo político digital da Nova Direita. O projeto trabalha com a produção de conteúdo audiovisual, que é veiculado na internet via YouTube. Por ser totalmente independente de patrocínios, o financiamento das séries é feito através da contribuição de assinantes, que ganham acesso a um conteúdo exclusivo de palestras. Atualmente, o Brasil Paralelo está lançando a sua segunda série, A Última Cruzada, que conta a história no Brasil desde seu descobrimento. A série se encontra no seu terceiro capítulo. Entretanto, aqui pretendemos analisar o primeiro trabalho do site: O Congresso Brasil Paralelo.
A primeira série do Brasil Paralelo dialoga diretamente com o período político em que foi lançada e que, por consequência, continuamos vivendo. Em 31 de agosto de 2016, ocorria o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Logo após, em 7 de dezembro, era lançada a série que, através de cinco episódios no estilo documentário (em fevereiro de 2017 é lançado um episódio extra), pretende contar as raízes do problema dos governos de esquerda no país até chegar ao impeachment.
A série
Cada episódio contém de 30 a 70 minutos e mantém um padrão estético com entrevistas de plano médio em ambientes fechados com o entrevistado sentado. O roteiro procura construir o argumento através de inúmeras entrevistas - somente no Congresso Brasil Paralelo foram realizadas mais de 80 entrevistas - e de uma narração em off coberta por imagens que buscam ressaltar o ponto de vista defendido e, vez por outra, ilustrado com vídeos. O narrador aparece somente no início dos episódios para apresentar qual será o conteúdo trabalhado e convidar os espectadores a serem assinantes. A trilha sonora escolhida é composta basicamente por músicas clássicas de fundo e são utilizadas para dar ênfase aos momentos mais “reveladores” e “chocantes” da narração.
Bill Nichols propõe seis modos de classificação que atuam como subgêneros do documentário e expressam o modo de ver do diretor e também o engajamento do filme no mundo. Para ele, nenhum documentário é desprovido de ideologia e sempre intervém na temática, afirmando “qual é a natureza de um assunto, para conquistar consentimento ou influenciar opiniões” (NICHOLS, 2005, p. 30). No caso que analisamos a questão da ideologia é bem clara e em nenhum momento se tenta escondê-la, pelo contrário, a ideia é expô-la ao máximo. Os modos propostos por Nichols são o poético, o expositivo, o observativo, o participativo, o reflexivo e o performático. Um mesmo produto pode apresentar mais de um modo em seu formato, entretanto, sempre haverá um predominante. Aqui não tiremos nos atentar em explicar cada modo, mas somente aqueles que se enquadram na classificação do nosso objeto.
O subgênero mais tradicional é o modo expositivo, no qual se enquadra o Congresso Brasil Paralelo. Tal modo “agrupa fragmentos do mundo histórico numa estrutura mais retórica ou argumentativa do que estética ou poética” (NICHOLS, 2005, p. 142). Para isso, a série utiliza de suas entrevistas como forma de legitimar e dar um corpo retórico ao argumento. Dentre os entrevistados estão especialistas de diversas e personalidades que tem um espaço relevante na mídia hoje, como Luiz Felipe Pondé e Olavo de Carvalho. Pode-se notar ao analisar os entrevistados que muitos apresentam divergências de pensamento em muitos aspectos - como no caso de Olavo de Carvalho e Luiz Felipe Pondé - mas há, na temática do documentário, um ponto em comum. Este fator procura ressaltar ainda mais a legitimidade do argumento, pois demonstra pontos que por vezes são contrários se unindo em prol de algo.
Outra característica do modo expositivo que pode ser identificada na séria é a “montagem de evidência”, que para Nichols consiste na forma de organizar sem que necessariamente haja uma continuidade, em que tempo e espaço não sejam únicos, mas sim “que se dê a impressão de um argumento único, convincente, sustentado por uma lógica” (NICHOLS, 2005, p. 58). Toda a narrativa em OFF, que preenche boa parte dos episódios, utiliza desta forma de encadeamento de imagens.
A série teve seu lançamento feito em cinemas em São Paulo e no Rio Grande do Sul. No site da entidade, o conteúdo já foi visualizado por mais de quatro milhões de pessoas. O projeto Brasil Paralelo reforça a viabilidade da produção de conteúdos do tipo a serem distribuídos em plataformas virtuais.
Referência:
NICHOLS, Bill. Introdução do documentário. Campinas, SP: Papirus, 2005.
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