As séries contemporâneas são (em sua grade maioria) norteadas por um modelo narratológico que é composto por várias camadas interpretativas e exige uma leitura atenta dos telespectadores. Cunhada por Mittell (2012, p. 36) a complexidade narrativa tem como uma de suas características centrais a fusão do formato episódico e seriado. Outro ponto recorrente nas tramas é a utilização de vários gêneros narrativos. Como explica Capanema (2016), este modelo abrange elementos como reflexividade, incoerência temporal, múltiplos pontos de vistas, monólogos interiores, ambiguidades etc.
Nesse sentido, essas produções exigem dos telespectadores mais atenção e engajamento para que seja possível compreender a trama. De acordo com Mittell (2012, p. 36) “O público tende a aderir a programas complexos de uma forma muito mais apaixonada e comprometida do que à maior parte da programação da televisão convencional”.
Neste contexto, a prática da reassistência vem se tornando cada vez mais comum entre os telespectadores. O conceito é definido por Mittel (2011) como a possibilidade de rever um programa televisivo, com o objetivo de deter a compreensão de todas as camadas da trama. Segundo o autor a prática permite que o público faça uma análise aprofundada, tentando dar sentido às estruturas do texto, à mecânica, à poética ou mesmo ao arco narrativo.
Dentro da prática de reassistência, há dois conceitos que podem ser observados: a perfurabilidade do texto e o fandom forense. A perfurabilidade se refere à capacidade de aprofundar nas narrativas complexas (MITTELL,2009). Como aponta Mittell (2009, Online) “Esses programas criam ímãs para engajamento, atraindo telespectadores para mundos narrativos e exortando-os a se aprofundar para descobrir mais”. Desta forma, essas séries incentivam o público a explorar plataformas colaborativas e redes sociais digitais para descobrir informações sobre a narrativa.
Já o conceito de fandom forense trata-se do fã- investigador que busca pelos detalhes da trama a fim de propor novos significados aos acontecimentos (MITTELL,2009). De acordo com Mittell (2012, p.42) “Essa estética operacional está demonstrada na dissecação feita por fãs em fóruns na internet das técnicas utilizadas nas comédias e dramas complexos para guiar, manipular, iludir e desviar a atenção dos espectadores”. Jost (2017, p.27) afirma que hoje temos
Os pontos discutidos por Mittell (2011; 2012) pode ser observados na minissérie Sharp Objects, uma adaptação do livro homônimo produzida pela HBO. A minissérie conta a história de Camille Preaker (Amy Adams), uma jornalista recém-saída de um hospital psicológico devido a anos de automutilação. A personagem é enviada a sua cidade natal para investigar os assassinatos de duas meninas e acaba tendo que enfrentar seu passado.
Nesse sentido, essas produções exigem dos telespectadores mais atenção e engajamento para que seja possível compreender a trama. De acordo com Mittell (2012, p. 36) “O público tende a aderir a programas complexos de uma forma muito mais apaixonada e comprometida do que à maior parte da programação da televisão convencional”.
Neste contexto, a prática da reassistência vem se tornando cada vez mais comum entre os telespectadores. O conceito é definido por Mittel (2011) como a possibilidade de rever um programa televisivo, com o objetivo de deter a compreensão de todas as camadas da trama. Segundo o autor a prática permite que o público faça uma análise aprofundada, tentando dar sentido às estruturas do texto, à mecânica, à poética ou mesmo ao arco narrativo.
Dentro da prática de reassistência, há dois conceitos que podem ser observados: a perfurabilidade do texto e o fandom forense. A perfurabilidade se refere à capacidade de aprofundar nas narrativas complexas (MITTELL,2009). Como aponta Mittell (2009, Online) “Esses programas criam ímãs para engajamento, atraindo telespectadores para mundos narrativos e exortando-os a se aprofundar para descobrir mais”. Desta forma, essas séries incentivam o público a explorar plataformas colaborativas e redes sociais digitais para descobrir informações sobre a narrativa.
Já o conceito de fandom forense trata-se do fã- investigador que busca pelos detalhes da trama a fim de propor novos significados aos acontecimentos (MITTELL,2009). De acordo com Mittell (2012, p.42) “Essa estética operacional está demonstrada na dissecação feita por fãs em fóruns na internet das técnicas utilizadas nas comédias e dramas complexos para guiar, manipular, iludir e desviar a atenção dos espectadores”. Jost (2017, p.27) afirma que hoje temos
[...] a possibilidade de ampliar a tela para observar um detalhe de um simples gesto; a necessidade de observar a tela em jogos de videogame, de modo a encontrar o detalhe que permitirá passar de um nível a outro e, por conseguinte, de descobrir elementos muito menores que o plano.Desta forma, esses recursos permitem que o telespectador explore a narrativa de modo mais profundo, com a intenção de dissecar todos os detalhes e camadas interpretativas.
Os pontos discutidos por Mittell (2011; 2012) pode ser observados na minissérie Sharp Objects, uma adaptação do livro homônimo produzida pela HBO. A minissérie conta a história de Camille Preaker (Amy Adams), uma jornalista recém-saída de um hospital psicológico devido a anos de automutilação. A personagem é enviada a sua cidade natal para investigar os assassinatos de duas meninas e acaba tendo que enfrentar seu passado.
Camille Preaker (Amy Adams) têm uma relação conturbada com sua família, especialmente com a mãe super controladora, Adora (Patricia Clarkson), e com a meio-irmã adolescente, Amma (Eliza Scanlon). Além disso, a personagem vive a dor da irmã que perdeu na infância.
A série possui uma narrativa não-linear, ou seja, a história mistura acontecimentos do passado da protagonista com cenas de seu presente. Os flashbacks de Sharp Objects são essenciais para a compreensão da narrativa e para entender o drama vivido pela protagonista e também o motivo de sua árdua relação com sua mãe. Apesar disso, eles são apresentados de forma implícita na trama, através de pequenos detalhes - com cenas com cortes rápidos, como flashes - sem nenhum tipo de indicação de que se tratam de cenas pertencentes a outra linha temporal. Como quando Camille (Amy Adams) avista uma roseira e lembra de ver sua mãe atirando um buquê de rosas no chão da recepção do hospital psiquiátrico em que ficou.
A série possui uma narrativa não-linear, ou seja, a história mistura acontecimentos do passado da protagonista com cenas de seu presente. Os flashbacks de Sharp Objects são essenciais para a compreensão da narrativa e para entender o drama vivido pela protagonista e também o motivo de sua árdua relação com sua mãe. Apesar disso, eles são apresentados de forma implícita na trama, através de pequenos detalhes - com cenas com cortes rápidos, como flashes - sem nenhum tipo de indicação de que se tratam de cenas pertencentes a outra linha temporal. Como quando Camille (Amy Adams) avista uma roseira e lembra de ver sua mãe atirando um buquê de rosas no chão da recepção do hospital psiquiátrico em que ficou.
A automutilação é um arco narrativo recorrente em Sharp Objects. Camile (Amy Adams) descarrega suas questões emocionais na própria pele, escrevendo palavras pelo corpo com os objetos cortantes do título do livro/minissérie. Assim, outro tipo de detalhe explorado na série são palavras “escondidas” nas cenas e presentes no próprio corpo da personagem. Os escritos aparecem de forma muito sutil no ambiente, e nem sempre são visíveis em um primeiro momento. Como, por exemplo, no primeiro episódio, em que aparece a frase em um sinal de estrada enquanto Camile (Amy Adams) dirige de St. Louis para Wind Gap: "Última saída para mudar de ideia"
Outro exemplo pode ser observado no episódio “Vanish” quando Amma (Eliza Scanlon) mostra a Camille (Amy Adams) sua versão em miniatura de uma casa de bonecas da mansão de Adora (Patricia Clarkson). A palavra "garota" é sutilmente visível, escrita em uma das réplicas de uma pintura da casa. Também é curioso que o quarto de Camille (Amy Adams) é um dos poucos cômodos não construídos na casa de bonecas da Amma (Eliza Scanlon) - a minúscula porta para onde o quarto dela seria não leva a lugar algum.
Apesar de sutis, estes detalhes - os flashbacks e as palavras - contribuem para contextualizar os acontecimentos do presente. E, considerando que a personagem não fala sobre suas angústias e dores, esses detalhes podem ser vistos como dicas para entender os pensamentos e o que Camille (Amy Adams) está sentindo no momento.
A partir da composição imagética de Sharp Objects o telespectador é instigado a ter uma leitura mais atenta da série observando todos os pequenos detalhes, somando os fragmentos e correlacionando as dicas por meio dos escritos, para que a narrativa faça sentido.
Referências:
All of the Hidden Words You Missed in Sharp Objects, VULTURE. Online, 2018. Disponívelem:http://www.vulture.com/2018/07/sharp-objects-all-the-hidden-words-you-missed.html. Acessoem: 26 jul. 2018.
CAPANEMA, L. A Narrativa Complexa Na Ficção Televisual: Por Um Modelo De Análise. 2016. In Atas do V Encontro Anual da AIM, 514-525. Lisboa: AIM. Disponível em: http://aim.org.pt/atas/pdfs/Atas-VEncontroAnualAIM-54.pdf. Acesso em: 26 jul 2018.
JOST, François. Amor aos detalhes: assistindo a Breaking Bad. In Matrizes, v.11 n.1, p. 25-37, 2017. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/matrizes/article/download/131623/127910>.Acesso em: 27 jul. 2018.
MITTELL, J. Complexidade narrativa na televisão americana contemporânea. 2012. São Paulo. Matrizes, vol. 5, Ano 5 – nº 2 jan/jun. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/matrizes/article/view/38326/41181. Acesso em: 26 jul 2018.
________. Notes on Rewatching. Just TV, Online, 2011. Disponível em: https://justtv.wordpress.com/2011/01/27/notes-on-rewatching/. Acesso em 26. jul. 2018.
CAPANEMA, L. A Narrativa Complexa Na Ficção Televisual: Por Um Modelo De Análise. 2016. In Atas do V Encontro Anual da AIM, 514-525. Lisboa: AIM. Disponível em: http://aim.org.pt/atas/pdfs/Atas-VEncontroAnualAIM-54.pdf. Acesso em: 26 jul 2018.
JOST, François. Amor aos detalhes: assistindo a Breaking Bad. In Matrizes, v.11 n.1, p. 25-37, 2017. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/matrizes/article/download/131623/127910>.Acesso em: 27 jul. 2018.
MITTELL, J. Complexidade narrativa na televisão americana contemporânea. 2012. São Paulo. Matrizes, vol. 5, Ano 5 – nº 2 jan/jun. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/matrizes/article/view/38326/41181. Acesso em: 26 jul 2018.
________. Notes on Rewatching. Just TV, Online, 2011. Disponível em: https://justtv.wordpress.com/2011/01/27/notes-on-rewatching/. Acesso em 26. jul. 2018.
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