Exibida pelo canal pago estadunidense HBO, a série Westworld é baseada no filme homônimo de Michael Crichton, produzido em 1973. A season premiere do programa foi ao ar em outubro do ano passado e a segunda temporada será exibida somente em 2018. Desenvolvida por Jonathan Nolan e Lisa Joy, a atração é ambientada em um parque chamado Westworld. O lugar simula o Velho Oeste e é povoado por andróides apelidados de “anfitriões”, eles possuem o papel de atender as necessidades e os desejos dos visitantes do parque, que tem a permissão de fazer o que bem entenderem no lugar, sem leis ou limites.
A série da HBO trouxe aos telespectadores grandes mistérios, personagens enigmáticos e cronologias confusas que estimularam a curiosidade de quem assistia. De acordo com Mittel (2012) as narrativas ficcionais seriadas produzidas a partir da década de 1990 são norteadas por tramas densas e complexas. Nesse sentido, o público é constantemente instigado a fazer conexões entre diferentes contextos e preencher as lacunas do universo ficcional.
Essa complexa composição visual pode ser observada em Westworld, detalhes como, por exemplo, o figurino dos personagens e os elementos cenográficos, davam ao telespectador mais atento a oportunidade de deduzir desdobramentos narrativos que aconteceriam na trama da HBO.
Apesar da complexidade se manifestar através das imagens e dos recursos visuais nas séries contemporâneas, o ambiente da convergência propicia ao telespectador fomentar discussões nos ambientes digitais. Assim podemos compartilhar as teorias formadas a partir dos detalhes percebidos em fóruns e comunidades pela rede. “Para nos certificar de que nossas descobertas visuais ou sonoras são exatas, temos a possibilidade de formar comunidades como nunca poderíamos em tempos anteriores (JOST, 2017, p.27) ”.
Segundo Jost (2017) a composição visual das séries contemporâneas faz com que o ato de assistir se torne uma espécie de jogo, com detalhes e presença de granulosidade nas narrativas. A partir disso, Jost (2017) elenca três tipos de detalhes presentes nas narrativas seriadas. São eles: Os detalhes que não têm significado intencional, detalhes com função narrativa e cuja percepção é necessária para compreender o enredo e detalhes que têm função artística de percepção facultativa (JOST, 2017, p 29-30) ”.
Para esta análise iremos nos ater as duas últimas categorias, que se referem aos detalhes essenciais para a narrativa e aos detalhes que não são fundamentais, mas possuem função artística, como, por exemplo, os easter-eggs. A primeira categoria aborda detalhes que se observam em um determinado instante, mas só fazem sentido em momentos posteriores da narrativa. Como, por exemplo, na série The Affair “quando vemos um corte na coxa da de Alison, mas não sabemos exatamente que gesto anterior a levou se machucar com um seixo que ela havia pego da areia. Só saberemos muito depois, quando ela repete o gesto, que esse corte é um sintoma do sentimento de culpa experimentado pela personagem (JOST, 2017 p.29-30) ”. Esta categoria de detalhe é parte integrante do enredo, uma vez que permite um raciocínio hipotético-dedutivo por parte do espectador.
Já a segunda, se refere aos easter-eggs, ou seja, detalhes que fazem alguma referência ao mundo externo. Muitas vezes estes se fazem presentes por meio de sentidos ocultos, como exemplifica Jost (2017) a partir da série Breaking Bad. “Se o espectador procurar este tipo de ‘recompensa’, nunca é demais aconselhá-lo a prestar atenção nos títulos americanos dos episódios de Breaking Bad. [...] “assim, o título do episódio 302, Caballo sin nombre, que significa cavalo sem nome remete à letra da canção A Horse With No Name”; [...] “no primeiro nível, essa canção interpretada pelo grupo America, que Walt cantarola enquanto dirige, remete à sua situação: ele atravessa um caminho deserto de carro. Mas se observamos o conjunto do episódio com a letra em mente, ela adquire novos significados. Primeiro, remonta a uma disputa entre Skyler e seu filho e também podemos relacionar com à aproximação de Walt e do cavalo, na réplica de Saul: ‘Volte a cavalo! “. Last but not least, é por meio de seu sino que Tío Salamanca soletra o nome de Walt, sem que seja necessário (e possível para o velho enfermo) pronunciá-lo. Ele efetivamente não tem nome: without name. (JOST, 2017, p.32-33) ”.
Em Westworld é possível perceber que os detalhes estão presentes, porém em níveis e de formas diferentes. Nesse contexto, apesar da presença destes detalhes na série os fóruns e comunidades espalhadas pela internet acabam auxiliando na sua compreensão, uma vez que a discussão em torno destes detalhes é exaustivamente explorada pelos fãs mais ávidos.
Assim as imagens que evidenciam os detalhes visuais da série e que comprovam teorias estão circulando na internet. Como nos exemplos abaixo:
A série da HBO trouxe aos telespectadores grandes mistérios, personagens enigmáticos e cronologias confusas que estimularam a curiosidade de quem assistia. De acordo com Mittel (2012) as narrativas ficcionais seriadas produzidas a partir da década de 1990 são norteadas por tramas densas e complexas. Nesse sentido, o público é constantemente instigado a fazer conexões entre diferentes contextos e preencher as lacunas do universo ficcional.
"Em todos esses programas, a falta de indicações e sinalizações explícitas sobre a forma de contar gera momentos de desorientação, implicando que os espectadores tenham que se engajar mais ativamente na compreensão da história e premiando espectadores comuns que conseguiram dominar as regras internas de cada programa narrado complexamente." (MITTEL, 2012, p. 47)Dessa forma, os detalhes estão se tornando cada vez mais essenciais no desdobramento da ficção seriada televisiva. Diferente de programas produzidos entre as décadas de 1960 e 1980, em que era possível compreender a trama através apenas dos diálogos, as séries atuais estão utilizando recursos visuais para este fim. Assim, as produções seriadas exploram não só de uma fotografia elaborada, iluminação, mas também utilizam de detalhes visuais que podem funcionar como easter eggs ou ser essenciais para a compreensão da trama, exigindo a máxima atenção de quem assiste.
“Dizia-se então que a TV seria uma mídia basicamente sonora, de modo que praticamente não haveria nenhuma necessidade de prestar atenção em nada além dos diálogos. Assim, a programação podia ser acompanhada no ambiente doméstico, pois os diálogos chegariam aos espectadores mesmo se estivessem na cozinha ou a conversar, olhos desviados da tela. Escreveu Arlindo Machado nos anos 1980: ‘Ver televisão é portanto um comportamento muito mais distraído e dispersivo do que ver cinema ‘(MACHADO, 1995, p. 51). Devido a um processo que não pode ser aqui examinado, a visualidade foi ganhando mais e mais relevância nas últimas décadas, de modo que se tornou uma parte tão importante quanto os diálogos, em especial no que diz respeito a sustentar a atenção dos espectadores (PUCCI; MONTEIRO, 2017, p.6-7) ”.
Essa complexa composição visual pode ser observada em Westworld, detalhes como, por exemplo, o figurino dos personagens e os elementos cenográficos, davam ao telespectador mais atento a oportunidade de deduzir desdobramentos narrativos que aconteceriam na trama da HBO.
Apesar da complexidade se manifestar através das imagens e dos recursos visuais nas séries contemporâneas, o ambiente da convergência propicia ao telespectador fomentar discussões nos ambientes digitais. Assim podemos compartilhar as teorias formadas a partir dos detalhes percebidos em fóruns e comunidades pela rede. “Para nos certificar de que nossas descobertas visuais ou sonoras são exatas, temos a possibilidade de formar comunidades como nunca poderíamos em tempos anteriores (JOST, 2017, p.27) ”.
Segundo Jost (2017) a composição visual das séries contemporâneas faz com que o ato de assistir se torne uma espécie de jogo, com detalhes e presença de granulosidade nas narrativas. A partir disso, Jost (2017) elenca três tipos de detalhes presentes nas narrativas seriadas. São eles: Os detalhes que não têm significado intencional, detalhes com função narrativa e cuja percepção é necessária para compreender o enredo e detalhes que têm função artística de percepção facultativa (JOST, 2017, p 29-30) ”.
Para esta análise iremos nos ater as duas últimas categorias, que se referem aos detalhes essenciais para a narrativa e aos detalhes que não são fundamentais, mas possuem função artística, como, por exemplo, os easter-eggs. A primeira categoria aborda detalhes que se observam em um determinado instante, mas só fazem sentido em momentos posteriores da narrativa. Como, por exemplo, na série The Affair “quando vemos um corte na coxa da de Alison, mas não sabemos exatamente que gesto anterior a levou se machucar com um seixo que ela havia pego da areia. Só saberemos muito depois, quando ela repete o gesto, que esse corte é um sintoma do sentimento de culpa experimentado pela personagem (JOST, 2017 p.29-30) ”. Esta categoria de detalhe é parte integrante do enredo, uma vez que permite um raciocínio hipotético-dedutivo por parte do espectador.
Já a segunda, se refere aos easter-eggs, ou seja, detalhes que fazem alguma referência ao mundo externo. Muitas vezes estes se fazem presentes por meio de sentidos ocultos, como exemplifica Jost (2017) a partir da série Breaking Bad. “Se o espectador procurar este tipo de ‘recompensa’, nunca é demais aconselhá-lo a prestar atenção nos títulos americanos dos episódios de Breaking Bad. [...] “assim, o título do episódio 302, Caballo sin nombre, que significa cavalo sem nome remete à letra da canção A Horse With No Name”; [...] “no primeiro nível, essa canção interpretada pelo grupo America, que Walt cantarola enquanto dirige, remete à sua situação: ele atravessa um caminho deserto de carro. Mas se observamos o conjunto do episódio com a letra em mente, ela adquire novos significados. Primeiro, remonta a uma disputa entre Skyler e seu filho e também podemos relacionar com à aproximação de Walt e do cavalo, na réplica de Saul: ‘Volte a cavalo! “. Last but not least, é por meio de seu sino que Tío Salamanca soletra o nome de Walt, sem que seja necessário (e possível para o velho enfermo) pronunciá-lo. Ele efetivamente não tem nome: without name. (JOST, 2017, p.32-33) ”.
Em Westworld é possível perceber que os detalhes estão presentes, porém em níveis e de formas diferentes. Nesse contexto, apesar da presença destes detalhes na série os fóruns e comunidades espalhadas pela internet acabam auxiliando na sua compreensão, uma vez que a discussão em torno destes detalhes é exaustivamente explorada pelos fãs mais ávidos.
Assim as imagens que evidenciam os detalhes visuais da série e que comprovam teorias estão circulando na internet. Como nos exemplos abaixo:
A cena em questão mostra a foto encontrada pelo pai de Dolores no primeiro episódio, mas até então não sabíamos de quem se tratava a mulher presente na fotografia. Porém no nono episódio, a identidade da mulher retratada foi revelada quando a mesma foto foi mostrada para William e fica claro que ele reconhece a mulher como sua noiva. Além desta revelação, a foto também confirma a teoria de que existem múltiplas linhas temporais na série. Neste caso, o detalhe só faz sentido para a trama depois de algum tempo e conforme o desenrolar da narrativa.
Já esta cena foi exibida durante a fuga da personagem Maeve do parque quando ela passa por uma região com vários anfitriões vestidos como samurais. Félix, também presente nesse instante, não explica o que é esta parte do parque, dizendo apenas que “é complicado”. Nas portas desta nova zona vemos um logo com as letras SW. A partir disso, muitos fãs já imaginaram que este parque deve ser Samurai World ou Shogun World. Outro fator que reforça esta teoria, é a existência de dois outros parques no longa em que a série foi baseada, chamados de Roman World (época da Roma Antiga) e Medieval World.
Esta cena, é caracterizada como um easter-egg, ou seja, é uma referência ao mundo externo, mas que não é necessária para a compreensão da narrativa. Porém, quem captou a correlação ou foi capaz de inferir o que a cena poderia representar, alcançou uma camada mais profunda da narrativa.
Estes detalhes contribuem para a riqueza da série, uma vez que os telespectadores que perceberem os detalhes terão acesso a um entendimento mais profundo da narrativa. Assim, Westworld passa a ter mais de uma camada de compreensão, pois quem não se atentou aos detalhes terá um tipo de entendimento e quem percebeu terá uma outra visão da trama.
Apesar da trama possuir níveis de detalhes visuais que exigem a atenção do público, com a propagação da cultura de fãs no ambiente digital os telespectadores possuem agora a chance de buscar o seu significado nos fóruns e comunidades espalhadas pela rede de fãs na internet. Ou então, pode compartilhar o seu entendimento próprio de um detalhe contribuindo para ampliar tanto a sua compreensão do universo ficcional da série, como a dos outros fãs presentes nas comunidades.
Referências:
JOST, F (2017). Amor aos detalhes: assistindo a Breaking Bad. São Paulo. Matrizes, v.11 - nº 1 jan/abr
MITTELL, J (2012). Complexidade narrativa na televisão americana contemporânea. - São Paulo. Matrizes Ano 5 – nº 2 jan./jun.
PUCCI, R; MONTEIRO, M (2017). A elaboração audiovisual como fator para manter a atenção em cenas complexas de Dr. House. São Paulo. XXVI Encontro Anual da Compós, Faculdade Cásper Líbero. Disponível em: www.compos.org.br/anais_encontros.php. Acesso em 01 de out de 2017.
Esta cena, é caracterizada como um easter-egg, ou seja, é uma referência ao mundo externo, mas que não é necessária para a compreensão da narrativa. Porém, quem captou a correlação ou foi capaz de inferir o que a cena poderia representar, alcançou uma camada mais profunda da narrativa.
Estes detalhes contribuem para a riqueza da série, uma vez que os telespectadores que perceberem os detalhes terão acesso a um entendimento mais profundo da narrativa. Assim, Westworld passa a ter mais de uma camada de compreensão, pois quem não se atentou aos detalhes terá um tipo de entendimento e quem percebeu terá uma outra visão da trama.
Apesar da trama possuir níveis de detalhes visuais que exigem a atenção do público, com a propagação da cultura de fãs no ambiente digital os telespectadores possuem agora a chance de buscar o seu significado nos fóruns e comunidades espalhadas pela rede de fãs na internet. Ou então, pode compartilhar o seu entendimento próprio de um detalhe contribuindo para ampliar tanto a sua compreensão do universo ficcional da série, como a dos outros fãs presentes nas comunidades.
Referências:
JOST, F (2017). Amor aos detalhes: assistindo a Breaking Bad. São Paulo. Matrizes, v.11 - nº 1 jan/abr
MITTELL, J (2012). Complexidade narrativa na televisão americana contemporânea. - São Paulo. Matrizes Ano 5 – nº 2 jan./jun.
PUCCI, R; MONTEIRO, M (2017). A elaboração audiovisual como fator para manter a atenção em cenas complexas de Dr. House. São Paulo. XXVI Encontro Anual da Compós, Faculdade Cásper Líbero. Disponível em: www.compos.org.br/anais_encontros.php. Acesso em 01 de out de 2017.
2 Comentários
Quando assisti Westworld me senti em casa, as referências são aos montes e quem programa e estuda machine learning sente a importância que eles deram a elementos destes campos, já que os anfitriões são máquinas com inteligência. Referências que mesmo bobas, me fizeram ter um apego a mais com a série. Esse tipo de coisa pode ser muito bem explorado como é feito em Westworld e em Mr. Robot para aproximar mais quem assiste e entende as referências. Ansioso pela próxima temporada!
ResponderExcluirSim,as referências relacionadas á tecnologia utilizada na programação dos anfitriões, por serem fiéis a realidade, acabam também contribuindo para a verossimilhança da série e consequentemente auxilia na imersão do espectador na trama. Além disso, conforme o telespectador se ambienta com os termos técnicos e os seus significados acaba se formando um aprendizado sobre o assunto. Ambos os fatores fazem com que a série seja rica e de qualidade. Aguardamos a segunda temporada!
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