Um garoto engravida uma serial killer e precisa cuidar da criança junto com sua família. O enredo de Raising Hope (FOX, 2010-2014) parece bem simples ao primeiro olhar. Jimmy Chance (Lucas Neff) se envolve com Lucy Carlyle (Bijou Phillips) e de um único encontro nasce Hope (Bayliee Rylie Cregut). A metáfora da esperança, materializada na personagem infantil, abarca a série de alterações sofridas pela família Chance após esse evento inesperado.
A série acompanha o desenvolvimento e crescimento de todos os integrantes desse espaço familiar: Jimmy - o novo pai; Burt (Garret Dillahunt) e Virginia (Martha Plimpton)-os jovens avós; MawMaw (ClorisLeachman) - a bisavó, e, claro, de maneira mais explícita, Hope. Essa história clássica, pais despreparados lidando da melhor maneira possível para criar seus filhos, é extensivamente explorada na televisão estadunidense como, por exemplo, em FullHouse (ABC, 1987-1995) e Party of Five (FOX, 1994-2000) em que a morte de entes importantes reconfigura o escopo familiar; e também nas sitcoms Baby Daddy (ABC, 2012-2017) – com a chegada de Emma na vida de Ben –além da recente Champions (NBC, 2018-atual) onde um pai começa a se relacionar com o filho adolescente.
Raising Hope, por outro lado, incorpora elementos complexos na narrativa, distanciando-se das comédias de situação tradicionais, que apresentam episódios independentes e que demandam pouco esforço ao acompanhá-las. Nesse contexto, as referências contidas no seriado são importantes para uma fruição amplificada da história e são, ainda, expandidas para outros espaços e outros universos como, por exemplo, o seriado do mesmo criador, Greg Garcia, My Name Is Earl (NBC, 2005-2009).
Mittell (2012) aponta que a partir dos 1990 emergiram novos formatos narrativos televisivos, reconfigurando a ficção televisa subsequente. O autor afirma que a complexidade narrativa é fruto de uma série de mudanças industriais, criativas e tecnológicas. Segundo Mittell (2012) as tramas complexas possuem um alto nível de reassistência (rewatchability, no original). Para o autor (2011,2012) as séries de TV passaram por uma alteração central ao não serem produzidas para se esgotar em uma única visualização, é demandarem a reassistência dos conteúdos para compreensão e busca de novas pistas no enredo.
Jost (2016) ressalta que a profundidade da fruição se ampliou a partir das possibilidades de exploração e detalhamento das estruturas narrativas usando-se de recursos simples como pausar e ampliar a tela, procurando e analisando pistas nos planos. De acordo com o autor, esses recursos demandam a decomposição da imagem e o compartilhamento e discussão, beneficiados pelo espaço convergente da Web. Os espectadores podem trocar conhecimentos sobre os detalhes da trama: erros de continuidade, pistas intencionais e necessárias para a compreensão do enredo assim como sinais destinados aos olhares mais atentos.
A série acompanha o desenvolvimento e crescimento de todos os integrantes desse espaço familiar: Jimmy - o novo pai; Burt (Garret Dillahunt) e Virginia (Martha Plimpton)-os jovens avós; MawMaw (ClorisLeachman) - a bisavó, e, claro, de maneira mais explícita, Hope. Essa história clássica, pais despreparados lidando da melhor maneira possível para criar seus filhos, é extensivamente explorada na televisão estadunidense como, por exemplo, em FullHouse (ABC, 1987-1995) e Party of Five (FOX, 1994-2000) em que a morte de entes importantes reconfigura o escopo familiar; e também nas sitcoms Baby Daddy (ABC, 2012-2017) – com a chegada de Emma na vida de Ben –além da recente Champions (NBC, 2018-atual) onde um pai começa a se relacionar com o filho adolescente.
Raising Hope, por outro lado, incorpora elementos complexos na narrativa, distanciando-se das comédias de situação tradicionais, que apresentam episódios independentes e que demandam pouco esforço ao acompanhá-las. Nesse contexto, as referências contidas no seriado são importantes para uma fruição amplificada da história e são, ainda, expandidas para outros espaços e outros universos como, por exemplo, o seriado do mesmo criador, Greg Garcia, My Name Is Earl (NBC, 2005-2009).
Mittell (2012) aponta que a partir dos 1990 emergiram novos formatos narrativos televisivos, reconfigurando a ficção televisa subsequente. O autor afirma que a complexidade narrativa é fruto de uma série de mudanças industriais, criativas e tecnológicas. Segundo Mittell (2012) as tramas complexas possuem um alto nível de reassistência (rewatchability, no original). Para o autor (2011,2012) as séries de TV passaram por uma alteração central ao não serem produzidas para se esgotar em uma única visualização, é demandarem a reassistência dos conteúdos para compreensão e busca de novas pistas no enredo.
Jost (2016) ressalta que a profundidade da fruição se ampliou a partir das possibilidades de exploração e detalhamento das estruturas narrativas usando-se de recursos simples como pausar e ampliar a tela, procurando e analisando pistas nos planos. De acordo com o autor, esses recursos demandam a decomposição da imagem e o compartilhamento e discussão, beneficiados pelo espaço convergente da Web. Os espectadores podem trocar conhecimentos sobre os detalhes da trama: erros de continuidade, pistas intencionais e necessárias para a compreensão do enredo assim como sinais destinados aos olhares mais atentos.
My Name is Earl e Raising Hope
Criada por Greg Garcia My Name is Earl (NBC, 2005-2009) é protagonizada por Earl J. Hickey (Jason Lee). O personagem não é exatamente um benfeitor: ele rouba, engana as pessoas e é extremamente egoísta. No piloto ele se depara com o conceito de karma na televisão depois de uma sucessão de eventos ruins em sua vida. Seguindo o preceito de que “aqui se faz, aqui se paga”, o protagonista decide fazer uma lista de todas as coisas ruins que já fez a fim de repará-las. Os episódios seguintes acompanham sua busca nessa jornada, junto com seu irmão Randy Hickey (Ethan Suplee).
Raising Hope, também criada por Garcia, apresenta diversos detalhes que só podem ser observados por telespectadores que se atentem e reassistamaos episódios buscando sinais que à primeira vista nos passam despercebidos. A experiência dos fãs da obra de Greg Garcia se difere do telespectador casual: o seriado em vários momentos apresenta referência à produção anterior My Name Is Earl.
Em alguns momentos isso se torna mais explícito como, por exemplo, quando Burt critica um executivo da televisão por ter cancelado My Name is Earl. Ou o episódio “Fazendo a banda” em homenagem ao seriado, onde vários atores da atração aparecem com novos personagens e formam uma banda infantil. É resgatado um personagem secundário, demandando do público conhecimento das narrativas com um todo para compreensão. Além disso, várias referências são feitas ao enredo original: o personagem de Jason Lee (Smokey Floyd) também fez uma lista de pessoas com quem deve se desculpar, evoca-se o casal que se forma depois da separação de Earl, o personagem de Ethan Suplee (Andrew) refere-se a Smokey como irmão.
Em outros momentos, essas referências demandam maior atenção por parte do telespectador para que sejam percebidas. Como, por exemplo, no primeiro episódio, o noticiário informa: “um pequeno ladrão com uma longa lista de crimes pelos quais tentava se redimir finalmente chegou ao fim e não imaginam como terminou”. A frase resume e referência o enredo de Earle nos é apresentada logo após uma importante cena onde mostra-severdadeira identidade da mãe de Hope.
Em “Não vote por esse episódio”, Jimmy invade o mercado da cidade após ser expulso de casa pela bisavó. Na sequência são exibidas cenas dele se divertindo, jogando jogos, comendo os produtos.Em uma dessas rápidas cenas, aparece o protagonista assistindo uns dos filmes produzidos por um personagem de My NameIs Earl.
Filme sendo exibido em My Name is Earl. Jimmy assiste o mesmo filme em Raising Hope.
Na ficção televisiva, as tramas são cada vez mais construídas a partir de várias camadas interpretativas, permitindo que as histórias não se esgotem após a primeira exibição. A composição imagética de Raising Hope estimula não só a reassistência dos episódios, mas a expansão do universo ficcional em plataformas colaborativas (redes sociais, fóruns, Wikis, etc.). Em que cada telespectador contribui de uma forma para a elaboração de análises minuciosas sobre a intertextualidade da história. Neste contexto, apesar de não serem fundamentais para a compreensão do programa, os detalhes de Raising Hope enriquecem a trama, fazendo com que cada cena tenha diversas camadas de significados.
Referências:
MITTEL, J. Complexidade Narrativa na Televisão Americana Contemporânea. In: Revista Matrizes, São Paulo, v. 5, n.2, p. 29-52, 2012.
____. Notes on Rewatching. Just TV, 2011. Disponível em:
https://justtv.wordpress.com/2011/01/27/notes-on-rewatching/. Acesso em: 6 mai. 2018.
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