É sobre série de qualidade e com muitos debates pertinentes que você quer ler, @? Então lá vai! Exibida pela HBO, a série Big Little Lies colecionou prêmios no ano passado – e do início deste. Se você não assistiu a trama durante a sua estreia, em fevereiro de 2017, te deixamos culpar o carnaval, afinal ninguém aqui quer perfeição. Mas se agora, se depois um ano você ainda não tirou um tempo para maratonar a adaptação do romance homônimo de Liane Moriarty, não tem como te defender.
Logo na abertura da série o telespectador já é arrebatado, ao som de Cold Little Heart, de Michael Kiwanuka, mergulhamos instantaneamente no universo ficcional de Big Little Lies. Com paisagens de tirar o fôlego somos apresentados, pouco a pouco, aos personagens que compõem a trama.
Logo na abertura da série o telespectador já é arrebatado, ao som de Cold Little Heart, de Michael Kiwanuka, mergulhamos instantaneamente no universo ficcional de Big Little Lies. Com paisagens de tirar o fôlego somos apresentados, pouco a pouco, aos personagens que compõem a trama.
A história se passa na cidade de Monterey, na Califórnia, nos Estados Unidos, e tem como ponto de partida um assassinato. Porém, as identidades da vítima e do assassino não são reveladas. A partir desse clássico (e misterioso) arco narrativo a trama começa a se desdobrar. As sequências iniciais de Big Little Lies são intercaladas com depoimentos dos personagens sobre os possíveis culpados. É então que somos apresentados as protagonistas da série, três mulheres aparentemente com vidas equilibradas que se dedicam a família. Entretanto, anoção de perfeição é desconstruída logo no primeiro episódio, quando conhecemos a intimidade dessas personagens. A fotografia em tons escuros das cenas no interior das casas contrasta com a plasticidade do cotidiano.
Com o desenrolar da história, o assassinato, que antes parecia ser o foco de Big Little Lies, se torna uma questão secundária.Conforme vamos nos tornando mais íntimos das histórias dessas personagens, marcadas por dramas como a violência doméstica, o sexismo, a traição e o bullying,mais nos reconhecemos na trama.
Em meados da década 1970 surge o modelo de NewWoman, representado por Lotz (2006) como um novo estereótipo, que pode ser definido como o de uma mulher solteira, sem filhos, heterossexual, sexualmente ativa e que busca seu lugar no mercado de trabalho. Segundo a autora, esse modelo foi utilizado para análise de personagens femininas na televisão durante muitos anos. Até que no fim da década de 1990 começaram a surgir personagens que não encaixam mais nesse estereótipo.Consideradas feministas, elas verbalizam suas inquietações com o sexismo.
A partir dos anos 2000 as narrativas ficcionais seriadas estadunidenses passam a explorar, de forma mais pontual o protagonismo feminino, abandonando o modelo sexista vigente e alargando o espectro de representações das personagens (SIGILIANO; BORGES, 2018). Podemos citar alguns nomes, como: Sex and The City (1998-2004), Homeland (2011-presente), Grey’s Anatomy (2005-presente), Scandal (2012-presente), How to Get Away with Murder (2014-presente) (goShonda!), The Marvelous Mrs. Maisel (2017-presente) e Big Little Lies (2017-presente).
Madeline Martha Mackenzie
Em um primeiro momento, Madeline cumpre o perfeito estereótipo de mulher de classe alta, que está no segundo casamento e tenta competir, por diversão, com a atual mulher de seu ex.
Com o desenrolar da história, o assassinato, que antes parecia ser o foco de Big Little Lies, se torna uma questão secundária.Conforme vamos nos tornando mais íntimos das histórias dessas personagens, marcadas por dramas como a violência doméstica, o sexismo, a traição e o bullying,mais nos reconhecemos na trama.
Representação feminina na TV estadunidense
A representação das mulheres na televisão sempre foi marcada por estereótipos. Em um retrospecto histórico conjuntural sobre o tema, podemos pontuam três momentos importantes sobre este debate (LOTZ, 2006; CASTELLANO; MEIMARIDIS, 2018). As décadas de 1950 e 1960 são norteadas pelo estereótipo da dona de casa que tem uma vida perfeita e está sempre em função do marido e filhos. As personagens, definidas pelos seus relacionamentos familiares, ocupações ‘femininas’; estão em constante submissão à figura masculina, seja como esposa ou secretária.Em meados da década 1970 surge o modelo de NewWoman, representado por Lotz (2006) como um novo estereótipo, que pode ser definido como o de uma mulher solteira, sem filhos, heterossexual, sexualmente ativa e que busca seu lugar no mercado de trabalho. Segundo a autora, esse modelo foi utilizado para análise de personagens femininas na televisão durante muitos anos. Até que no fim da década de 1990 começaram a surgir personagens que não encaixam mais nesse estereótipo.Consideradas feministas, elas verbalizam suas inquietações com o sexismo.
A partir dos anos 2000 as narrativas ficcionais seriadas estadunidenses passam a explorar, de forma mais pontual o protagonismo feminino, abandonando o modelo sexista vigente e alargando o espectro de representações das personagens (SIGILIANO; BORGES, 2018). Podemos citar alguns nomes, como: Sex and The City (1998-2004), Homeland (2011-presente), Grey’s Anatomy (2005-presente), Scandal (2012-presente), How to Get Away with Murder (2014-presente) (goShonda!), The Marvelous Mrs. Maisel (2017-presente) e Big Little Lies (2017-presente).
O universo ficcional de Big Little Lies
A construção das protagonistas de Big Little Lies é um dos pontos mais complexos da trama. Ao longo dos episódios acompanhamos o cotidiano das personagens dessas mulheres como voyeurs, espiando e acompanhando seus problemas, alegrias, prazeres e angústias.Madeline Martha Mackenzie
Em um primeiro momento, Madeline cumpre o perfeito estereótipo de mulher de classe alta, que está no segundo casamento e tenta competir, por diversão, com a atual mulher de seu ex.
Interpretada por Reese Witherspoon, Madelinea primeira vista se mostra uma mãe cuidadosa e protetora, que zela pela segurança de suas filhas. Sua vida é pautada por uma monótona rotina doméstica, casada com Ed Mackenzie (Adam Scott), a personagem tem encontros diários com suas melhores amigas. Porém, com o avançar da série, vemos a noção de vida perfeita se desmoronar, Madelinetem desavenças em seu casamento, brigas com sua filha mais velha e toma decisões erradas. A própria personagem tem uma frase marcante que materializa esse rompimento com o ideal de perfeição: “SometimesI’mjust holding on to this idea of perfection so tight some thing has to give”.
Jane Chapman
A princípio, Jane é apresentada ao público como uma mãe solteira que tem um ótimo relacionamento com seu filho. Ela acaba de se mudar para Monterey e lida com as dificuldades da mudança com responsabilidade e tranquilidade.
Jane Chapman
A princípio, Jane é apresentada ao público como uma mãe solteira que tem um ótimo relacionamento com seu filho. Ela acaba de se mudar para Monterey e lida com as dificuldades da mudança com responsabilidade e tranquilidade.
Shailene Woodley dá vida à mãe de Ziggy (Iain Armitage), de quem cuida sozinha e de forma independente. O primeiro episódio é marcado pela chegada de Jane em Monterey e sua instantânea amizade com Madeline. Logo no primeiro dia de aula seu filho é acusado publicamente de ter estrangulado a filha da poderosa Renata Klein (Laura Dern). No decorrer da série, conforme vamos nos tornando mais íntimos da história de Jane, descobrimos que Ziggy é fruto de um estupro e o crime deixou traumas densos na protagonista. Essa luta interna de Jane então passa a ser assunto recorrente em praticamente todos os episódios. A dúvida sobre a identidade do seu estuprador passa a ser compartilha com o telespectador – diversas vezes somos levados ao interior de sua mente, onde ela se imagina atirando no criminoso.
Celeste Wright
Uma aparência deslumbrante, um marido desejável por qualquer mulher, dois filhos adoráveis, uma casa enorme e uma família bem estruturada. O que pode haver de errado nessa personagem?
Celeste Wright
Uma aparência deslumbrante, um marido desejável por qualquer mulher, dois filhos adoráveis, uma casa enorme e uma família bem estruturada. O que pode haver de errado nessa personagem?
A personagem de Nicole Kidman talvez seja a mais marcante e complexa de Big LittleLies. Celeste é casada com Perry Wright (Alexander Skarsgård), um homem mais jovem (o que gera inveja e comentários de outras mulheres) e tem dois filhos. Os personagens formam um casal atraente e aparentam ter uma vida perfeita, porém a impressão que é logo derrubada com uma chocante revelação já no primeiro episódio. Apesar de esconder de suas amigas Madeline e Jane, Celeste é vitima de violência doméstica. Cega pelo amor que sente por Perry, a personagem enfrenta a dúvida de abandonar vida que aparenta ser perfeita ou se separar do marido. O arco narrativo se torna angustiante para o telespectador, tornando sua história a mais envolvente e emocionante de acompanhar – e talvez, se identificar.
Além da tríade protagonista, os coadjuvantestambém são construídos a partir de complexas nuances. Não é à toa que Alexander Skarsgård e Laura Dern receberam o Globo de Ouro e Emmy nas categorias de Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Atriz Coadjuvante, entre outras premiações.
Renata Klein (Laura Dern), a mulher cuja filha sofre bullying durante a série, é uma das personagens que mais passa por transformações ao longo da trama. Até certo momento na história, temos a imagem de Renata construída como uma mulher poderosa, determinada e que faz de tudo para proteger sua filha, Amabella (Ivy George). A posição da personagem a coloca em constante conflito com Jane e Madeline. Porém, o cenário muda conforme a trama se desenvolve e vemos a faceta de uma mãe corajosa tornar-se a de uma mãe apavorada pelo sofrimento de sua filha.
Outro ponto que acha atenção em Big Little Lies é a forma como as atitudes dePerry(Alexander Skarsgård) são exploradas na série. Ao contrário das protagonistas, somos introduzidos a sua vida íntima, separada do casamento. Nesse sentido, não são apresentados justificas para as suas ações e o seu temperamento violento. O público vive um constante contraponto de Perry sendo ótimo pai e ao mesmo tempo, um marido agressivo.
A evolução da imagem feminina na contemporaneidade
O feminismo é um tema que permeia todo o universo ficcional de Big Little Lies e parte disso se deve à equipe produção. As atrizes Reese Witherspoon e Nicole Kidman, além de atuarem, são produtoras executivas da série. Reese é dona da Produtora "HelloSunshine", antiga "Pacific Standard", que deu origem à trama. Segundo Reesea produtora é um espaço feito para contar histórias dirigidas e protagonizadas por mulheres – os premiados filmes "Gone Girl" e "Wild" também são produções da Pacific Standard. Porém, Big Little Lies foi à primeira produção para a televisão, em formato de minissérie.
Como já discutimos anteriormente, o modo como as mulheres são retratadas nas narrativas ficcionais seriadas evoluiu em consonância com as mudanças sociais que ocorreram na sociedade (ROVIROSA, 2014).Nesse sentido, meio em que as mulheres foram, e ainda são representadas através de estereótipos ou abordagens superficiais, Big Little Liesreforça a importância das tramas de qualidade que estimulem a compreensão crítica do telespectador.
Referências:
CASTELLANO, M; MEIMARIDIS, M. Mulheres Difíceis: A anti-heroína na ficção seriada televisiva americana. In Famecos, v.25, n.1, p-23, 2018.
LOTZ, A. Redesigning women: Television after the network era. Chicago: University of Illinois Press, 2006.
ROVIROSA, A. T. O tratamento da mulher nas séries televisivas norteamericanas. In Contemporânea, v.12, n.1, p. 234-260, 2014.
SIGILIANO, D; BORGES, G. Competência Midiática: o ativismo dos fãs de The Handmaid's Tale. In Comunicação & Inovação, v. 19, n. 40, 2018 (no prelo)
Além da tríade protagonista, os coadjuvantestambém são construídos a partir de complexas nuances. Não é à toa que Alexander Skarsgård e Laura Dern receberam o Globo de Ouro e Emmy nas categorias de Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Atriz Coadjuvante, entre outras premiações.
Renata Klein (Laura Dern), a mulher cuja filha sofre bullying durante a série, é uma das personagens que mais passa por transformações ao longo da trama. Até certo momento na história, temos a imagem de Renata construída como uma mulher poderosa, determinada e que faz de tudo para proteger sua filha, Amabella (Ivy George). A posição da personagem a coloca em constante conflito com Jane e Madeline. Porém, o cenário muda conforme a trama se desenvolve e vemos a faceta de uma mãe corajosa tornar-se a de uma mãe apavorada pelo sofrimento de sua filha.
Outro ponto que acha atenção em Big Little Lies é a forma como as atitudes dePerry(Alexander Skarsgård) são exploradas na série. Ao contrário das protagonistas, somos introduzidos a sua vida íntima, separada do casamento. Nesse sentido, não são apresentados justificas para as suas ações e o seu temperamento violento. O público vive um constante contraponto de Perry sendo ótimo pai e ao mesmo tempo, um marido agressivo.
A evolução da imagem feminina na contemporaneidade
O feminismo é um tema que permeia todo o universo ficcional de Big Little Lies e parte disso se deve à equipe produção. As atrizes Reese Witherspoon e Nicole Kidman, além de atuarem, são produtoras executivas da série. Reese é dona da Produtora "HelloSunshine", antiga "Pacific Standard", que deu origem à trama. Segundo Reesea produtora é um espaço feito para contar histórias dirigidas e protagonizadas por mulheres – os premiados filmes "Gone Girl" e "Wild" também são produções da Pacific Standard. Porém, Big Little Lies foi à primeira produção para a televisão, em formato de minissérie.
Como já discutimos anteriormente, o modo como as mulheres são retratadas nas narrativas ficcionais seriadas evoluiu em consonância com as mudanças sociais que ocorreram na sociedade (ROVIROSA, 2014).Nesse sentido, meio em que as mulheres foram, e ainda são representadas através de estereótipos ou abordagens superficiais, Big Little Liesreforça a importância das tramas de qualidade que estimulem a compreensão crítica do telespectador.
Referências:
CASTELLANO, M; MEIMARIDIS, M. Mulheres Difíceis: A anti-heroína na ficção seriada televisiva americana. In Famecos, v.25, n.1, p-23, 2018.
LOTZ, A. Redesigning women: Television after the network era. Chicago: University of Illinois Press, 2006.
ROVIROSA, A. T. O tratamento da mulher nas séries televisivas norteamericanas. In Contemporânea, v.12, n.1, p. 234-260, 2014.
SIGILIANO, D; BORGES, G. Competência Midiática: o ativismo dos fãs de The Handmaid's Tale. In Comunicação & Inovação, v. 19, n. 40, 2018 (no prelo)
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